5 formas que o machismo influencia a criação dos nossos filhos
1. Pra começo de conversa, ainda hoje, na maioria das casas, a criança é cuidada principalmente pela mãe (ou alguma outra mulher). Se existe um pai presente, dificilmente é ele a referência para as questões ligadas à criança. É a mãe que sabe das questões ligadas à escola, ao médico, à rotina diária. Nasce aí uma mãe sobrecarregada (física e/ou mentalmente).
2. Logo que o bebê nasce, algumas escolhas comumente tomadas, deveriam nos fazer pensar... É possível que a menina tenha sua orelha furada e colocado um lindo brinquinho! Pra que? Pra já se encaixar em um padrão? Posso chamar de "padrão de beleza"? No qual a principal mensagem talvez seja: meninas precisam se enfeitar. (Pra refletir.)
3. E os adjetivos que damos pra bebês e crianças de sexos diferentes? Já reparou? Pode ser que a gente nem note. É comum que meninas sejam chamadas de "princesas", "lindas", "delicadas", "bonecas"... e os meninos sejam "bebezões", "garotões", "fortões"... nasce aí uma diferença de auto imagem: meninas doces e com aparência que agrada, meninos fortes e auto suficientes. Faz sentido?
4. Aí eles crescem um pouco... aniversário de 1, 2, 3, 4 anos... e começam a chegar os presentes: meninas ganham bonecas, panelinhas, vassourinhas, maquiagem... e já entendem logo cedo que precisam aprender a cuidar: da casa, dos filhos, da sua própria beleza... e meninos ganham bolas, carrinhos, bonecos fortes e com cara de brabos... e já entendem que o importante na vida é se divertir, se destacar e, de preferência, serem fortes e usarem a força (fisica?) para atingirem o que querem. Recado dado... você não disse isso, eu sei... mas acho que eles entenderam direitinho.
5. Aí vão crescendo... Importante fazer uma atividade física, né? Meninos vão pra lutas... pra que saibam se defender e sejam fortes, certo? E as meninas? Ah, quem sabe ballet, dança... é importante que sejam belas e graciosas. Tá bom, tá bom... tem menina que faz luta e futebol... eu sei... mas você vê por aí menino fazendo ballet?
(Aposto como vc ficou até meio escandalizado com essa possibilidade... é... eu entendo... a sociedade ainda não está preparada pra algo tão fora dos padrões... que pena...perdem todos: a criança, nós e a sociedade como um todo... talvez tivessem ótimos bailarinos dentre os nossos filhos, talvez eles aprendessem tanto sobre sutileza e equilíbrio... é, mas não foi dessa vez...)
E quando você vê, pronto! A gente nem achou que era m4chist4, mas já criou um filho repetindo todos os velhos padrões. Quase sempre sem intenção, eu sei... mas aí depois, dá mais trabalho pra reverter, entende? Quando ele, o menino, chega lá na vida adulta, e entende que vai ter que cuidar do filho porque tanto o pai quanto a mãe são pais de uma criança que precisa de cuidados. Ou que vai ter que cuidar da casa porque quem mora na casa cuida da casa, ele fica meio desconcertado, quase sempre relutando em assumir esse papel.
Dá mais trabalho depois explicar pra menina que ela não precisa buscar um padrão de beleza pra ser feliz. Que ela não precisa se encaixar no padrão. Que ela não precisa esconder o rosto dela todos os dias atrás de uma maquiagem pra "ajeitar as imperfeições" ou que ela não precisa se submeter a um procedimento cirúrgico pra ter um corpo como esperam que ela tenha.
Ah, Laura! Mas então vocé é contra tudo isso? Maquiagem, luta, ballet, chamar de "linda", de "forte"?
Não. Não sou, não. Eu sou contra a gente prender nossos filhos dentro de padrões que depois podem levá-los a sofrer por isso. Crianças são crianças. E serão adultos um dia. E esses adultos, quando homens terão o direito de serem frágeis e precisarão aprender a cuidar da casa e de filhos, se os tiverem. E mulheres, podem e devem ter o direito de se sentirem à vontade de ir a praia mesmo que tenha gordurinhas na barriga ou de se sentir bem mesmo que seu nariz seja diferente do padrão.
Eu também já repeti muito isso. E, às vezes, sem querer, ainda repito. Mas vocês não acham que está na hora de mudar?
Me conta aqui o que você pensa.
27 de Abril de 2022