Sobre os nossos pais: "somos vítimas de outras vítimas"
É... eu sei... você apanhou quando criança e não morreu por causa disso.
Sei bem... seus pais talvez tenham dito raríssimas (ou nenhuma vez) que te amam.
Eu sei que hoje em dia, talvez você nem se lembre da dor que sentiu pelas palmadas e castigos... e talvez nem note o quanto te fez falta se sentir verdadeiramente amado.
Mas acredite. As feridas dessas agressões, mesmo que pequenas, assim como o vazio de não sentir esse amor que você buscou tanto, dito com todas as letras (em um delicioso "te amo, meu filho"), ainda moram dentro de você.
Nós somos diversos. Cada um é de um jeito. Cada um teve suas vivências. E cada um reage de uma forma individual a tudo que já viveu.
Mas uma coisa é certa. O ser humano tem como condição primordial de sobrevivência se sentir amado e aceito. O ser humano necessita ser respeitado e apoiado.
Então, olha aí pra dentro de você. Observa se esse carência que você busca resolver nos seus relacionamentos não veio lá daquela necessidade de ser aceito pelos seus pais.
Ou se a forma como você aceita ser agredida pelo seu companheiro não veio de tanto ver aqueles que te amavam (seus pais) se sentindo no direito de te bater (ou brigar) para conseguir que você fizesse o que era certo.
Observa se essa sua insegurança e dificuldade de ir mais longe não vem das vezes que você ouviu que o que você fazia não era mais que sua obrigação.
Observa se a sua agressividade e reatividade não são, na verdade, você sendo a cópia da sua mãe ou do seu pai aos berros com você.
E se você reparar bem, uma hora vai perceber que você passou a vida repentindo, em ciclos, tudo que aprendeu e vivenciou na infância. Só mudaram o tempo e as personagens. Seus comportamentos e reações foram sempre os mesmos.
Eu sei. É duro pensar que muito do que somos hoje pode ser reflexo dessas relações tortas que tivemos com nossos pais.
Até dói pensar em culpá-los por alguma coisa. São nosso alvo maior de amor.
Mas de verdade. Não foi culpa deles. Eles fizeram o que conseguiram fazer.
Nós fomos vítimas de outras vítimas.
Que ao mesmo tempo em que se esforçavam pra dar o seu melhor, nos davam também o que tinham recebido na infância. E assim, a criança ferida que somos, foi ferida por outras crianças feridas.
Aceite este fato e perdoe.
Mas eu te proponho mais uma reflexão pra você que é mãe/pai:
A vítima que você foi, hoje está fazendo outra vítima?
Você repete o padrão de "educação" que recebeu na infância? Ainda se descompensa, bate, castiga, ignora?... Ou você já olhou pra dentro de si e resolveu que os seus filhos vivenciarão outro ambiente familiar?
Vamos mudar?
A cura dos nossos filhos começa com a nossa cura.
E mudar pelo amor pode ser a forma mais doce da mudança.
Vamos construir novas histórias?
13 de Setembro de 2021